segunda-feira, 31 de julho de 2017

Dia 26 | +++ Chocolate

Heaven
I’m in heaven
And my heart beat so that I can hardly speak
And I seem to find the happiness I seek

Passei na casa da Maria José com o objectivo de organizarmos uma acção de recolha de lixo. Trabalho de equipa, falávamos e estávamos a tentar decidir juntas. O próximo passo era ir à Câmara conseguir o apoio logístico. A pessoa responsável para falar deste assunto era o Lázaro, com quem já tinha falado há umas semanas.
Então não é que já estavam a organizar uma acção para dia 3, para limpar a cidade antes das Festas de Nª Senhora das Neves? Nossa Senhora.
Juntámo-nos à acção, debatemos tudo o que era necessário e ainda agendámos uma limpeza para depois das festas também.
O próximo passo era a divulgação, então fomos juntas à Rádio Tlachá. Expliquei as bases para criar um texto de divulgação e lá o criámos juntas. Na Rádio, a Márcia ficou com a nossa folha e comprometeu-se a passar a informação.
Infelizmente, branca tem facilidade para obter o que necessita. O grupo de voluntários da WACT não paga nada por divulgar na rádio actividades e projectos. O que não acontece com o grupo de voluntários da Cruz Vermelha de Neves. Teriam de pagar 10.000 dobras. A injustiça dos São-tomenses para eles próprios é espectacular.

A caminhar de regresso a casa, falávamos de outros assuntos não profissionais. A vida, objectivos de futuro, namorados. Com 23 anos, ela é o exemplo de outra miúda que não se entrega a um homem porque “tem medo”. Quer concluir os estudos, arranjar um bom trabalho, ter estabilidade e independência. Que miúda porreira!
Este medo de entrega a homens é um medo de engravidar e ter uma casa cheia de filhos e não poder ter uma vida melhor. Aqui por STP, procria-se bastante, cada família tem facilmente 5 filhos. O segredo?
Segundo o que ouvi um homem a falar no outro dia, o normal é chegar a casa do trabalho e agarrar na mulher. E com a mulher não se usa preservativo, só com as outras. E é assim que se fazem os bebés, meus caros.

À tarde, passeio pela cidade de São Tomé. Passei na Associação Pica-Pau e deliciei-me com os artesanatos. As máscaras africanas, que segundo os artesãos, simbolizam diferentes danças, Kongo, Tchiloli, Socopé, e outras. Comprei algumas.

Txé

As tintas que utilizam para pintar as máscaras? Naturais. O vermelho é à base de bagas de mondi, as que avistei bastante durante o passeio de 6h; o amarelo faz-se com açafrão, o azul com pau de kalulu e o verde com couve e pau boba. As outras cores fazem-se misturando estas. Foi então que me senti a explicar as cores nas festas de aniversário da Science4you.

O melhor estava para vir: visita à Fábrica de Chocolate do Claudio Corallo. Eu, que sou uma apreciadora de chocolates Milka, nunca tinha ouvido falar deste senhor. Mas acreditem, é um SENHOR.
Agricultor italiano há mais de 40 anos, começou com azeitonas, e veio parar ao café e cacau. O seu chocolate, divinal, não era o seu objectivo de trabalho e apenas resultou das experiências que fez. Pessoas, bora trabalhar em experiências.

DEGUSTAÇÃO DE CHOCOLATES:
1)      Favas de cacau. As favas têm 53% manteiga de cacau; o embrião contém apenas 3% de manteiga de cacau, e é o que faz o chocolate ficar mais amargo. Separando a radícula manualmente, vai dar um chocolate mais adocicado, naturalmente.
O chocolate preto é um defeito da fermentação, foi muito torrado. Não significa que seja mais saudável!
2)      Chocolate com 80% cacau e 20% açúcar refinado. Tem granulometrias diferentes, e o açúcar não fica totalmente dissolvido à É ÓPTIMO!
3)      Chocolate com 75% cacau e 25% açúcar, totalmente misturados, o que parece duplamente doce só pelo facto de o açúcar estar dissolvido.
4)      Chocolate com 73,5% cacau e 26,5% açúcar. Deste cacau, 12% são adicionados depois, ficando em pedacinhos deliciosos.
A maneira como os ingredientes são misturados, muda o gosto do chocolate.
5)      Chocolate com 70% cacau, com laranja italiana, cascas cristalizadas moídas.
6)      Chocolate com 70% cacau, com café liberica.
O café liberica precisa de mais mão-de-ora e não produz tanto como o arabica ou robusta.
7)      Chocolate com 70% cacau - Ubric- resultado da destilação da polpa branca do cacau (bebida alcoólica com 80% de álcool) – MEU DEUS
8)      Chocolate com 70% cacau, com flor de sal de Castro Marim.
9)      Chocolate com 70% cacau, com gengibre cristalizado.
10)   Chocolate com 45% cacau, 45% açúcar, grão de café de variedade antiga, Caturra. Uma explosão de café na boca, envolvida em chocolate. à É ÓPTIMO!
11)   Chocolate com 45% cacau, 45% açúcar, grão de café de variedade antiga, Bourbon. O sabor do café vem lentamente, e quando atinge a plenitude, fica na boca.
12)   Chocolate com 45% cacau, 45% açúcar, grão de café de variedade antiga, Novo Mundo. Neste, o sabor do café não consegue esconder o sabor do chocolate.
As variedades antigas de café apenas produzem 50kg/hectar, enquanto um híbrido moderno pode produzir 2000kg/hectar.
13)   Esferas de gengibre feitas manualmente com 100% cacau
14)   100% bagas de cacau moídas

Até eu fiquei enjoada de chocolate. E isso não é fácil.

Outra aventura na viagem de regresso da hiace. De repente, o condutor pára e vai lá fora. O que se passará?

Polícia lá à frente?

Vai buscar tábuas para encher a bagageira?

Vai abrir a porta para alguém entrar?

Não, foi simplesmente urinar. Necessidade básica.

domingo, 30 de julho de 2017

Dia 25 | Deixem-me ficar no Sul

Neste dia de folga, pude fazer a minha rotina Almadense: sair de casa sem tomar o pequeno-almoço.
O Simão veio pegar-nos às 6h e parámos na cidade para comer. Na Sal e Dóxi, não resisti à bola de Berlim de chocolate, com uma massa super gordurosa e o açúcar em pó por fora. O creme de chocolate estava divinal, tal como o croissant que tinha provado no outro dia. E então não é que saiu uma fornada de pastéis de nata logo a seguir? Creio que ficou ao nível dos pastéis de Belém, mas este era pastel de nata em São Tomé.
Seguiram-se mais umas 2h de viagem na hiace, a ouvir a música de sempre, Kizomba.
Antes de passarmos por Monte Mário, uma grande exploração de palmeiras para extracção de óleo de palma, da empresa Agripalma. Nesta zona, só se vê mesmo palmeiras, ao contrário da vista anterior com bananeiras, fruta-pão, caroceiro, cacau, e outras. É uma exploração intensiva, feia, que degrada a paisagem e todo o ecossistema.
Parámos a hiace na estrada para tirar uma fotografia de grupo com o Pico Cão Grande como paisagem de fundo. Vi o ramo de uma árvore a mexer e olhei curiosamente a tentar ver o homem que estaria a colher bananas. Afinal não era um homem, tinha uma cauda. Aquilo é…
UM MACACO???
AWeee


Quase que tinha um orgasmo bem ali, a ver macacos. Acho que eram 3 no total, da espécie Cercopithecus mona.
Fui a sorrir o resto do caminho, até chegarmos à praia Inhame, situada dentro de um resort de brancos, o local onde se apanha o barco. Não é um cacilheiro. É um barco pequeno, e o nosso grupo teve de ir em duas viagens. Na 2ª viagem, onde eu fui, como havia pessoas a mais do que a capacidade do barquito azul, fui sem colete de salvação, pelo simples motivo de não haver coletes para todas. Cedi o meu colete e “se o barco virar, alguém que venha ter comigo”. E também não devia haver tubarões por ali no mar. O único problema desta viagem foi o facto de haver muitas pessoas a bordo, e muito peso à frente, o que fez com que se furassem muitas ondas. Resultado: vestido totalmente encharcado. Na verdade não foi um problema, apenas tornou a travessia até ao Ilhéu das Rolas, numa viagem de 10 minutos simplesmente brutal! A furar ondas!
Fomos dar uma volta ao centro do Ilhéu. Passámos por uma casa de artesanato onde o rapaz estava mesmo a esculpir a madeira das máscaras, para depois vendê-las. Com madeira de árvore Cidrela, que por acaso havia uma árvore à sua porta. E também se faz briquetes com a serradura desta! E antigamente era usada para curar a malária! Tá em todas.

Vi pela primeira vez um moço a trepar por um coqueiro (é mesmo alto, o coqueiro). Estava a fazer o espectáculo para um grupo de turistas portugueses. É assim que os bons guias turísticos fazem as visitas à ilha. O nosso, o Simão, não trepa aos côcos, apenas conduz a hiace. Mas conhece os guias que trepam e andam de catana na mão, e foi assim que provei a água e me deliciei com um pedacinho só para mim. Acho que estou viciada nestas frutas.

Estive mesmo no centro do mundo: pisámos a linha do equador, marcada por Gago Coutinho.

Na praia, a água tão límpida, a areia branca, tantos coqueiros por todo o Ilhéu e uma vasta sombra das árvores do caroço. Eu e a Ana com almoço marcado para as 13h. Restaurante? Não. O rapaz faz a comida na casa dele, monta a mesa à beira da praia, e traz-nos a comida.
Quem é que teve esta ideia fantástica de comer decentemente à beira da praia?! Trouxe-nos peixe grelhado, dos que conseguiram pescar na hora anterior, especificamente para nós: garoupa, peixe bulhão, peixe vermelho e dourada. O mais saboroso foi mesmo a garoupa. Este rodízio de peixes foi acompanhado de fruta frita (aqui em STP quando se diz fruta, é fruta-pão) e uma Rosema. E ainda acompanhadas pelo Simão! E acompanhados de uma vista espectacular, de praia. Definitivamente, o melhor almoço até hoje.
1 almoço romântico na praia com peixe fresco = 25€/2 pax à recomenda-se

Mais um banhinho, e apanhar o barco de regresso. O que podia acontecer a meio do mar? Toca o telemóvel do nosso condutor. Então ficámos parados no mar, enquanto ele punha a conversa em dia, pois não podia fazer duas tarefas ao mesmo tempo. De partir o côco a rir, isto é mesmo leve-leve!
E leve-leve é colocar a mão dentro da água do mar e sentir a água tépida, a tender para o morno. Acho que gostava de ter feito a travessia a nadar.
Mais leve-leve foi chegar às poças de marés, na praia de Inhame, e observar ouriços-do-mar, anémonas, uma lesma do mar e corais. Quase tive ali o segundo orgasmo do dia.
Todos os dias deviam ser Domingo, o dia de passeio! Assim treino o “Ser Bióloga”.

Na viagem de regresso a Neves, de hiace, umas meras 3h de seguida numa carrinha muito desconfortável, deu para passar pelas brasas muitas vezes. Notei que ao adormecer, a minha cabeça cai sempre para a esquerda. Olhei de novo para o local onde tinha visto os macacos. Procurei-os, mas claro que não os voltei a ver. Mas vi as palmeiras. Aquela exploração que destrói os ecossistemas, ali tão perto de onde avistei os macacos. Foi então que me apercebi do que estava a ver e lembrei-me do que o Paulo me costumava dizer.
comer chocolates = comer óleo de palma = contribuir para a destruição do habitat dos gorilas
Comer chocolates = Matar gorilas

E hoje comi aquela bola de Berlim com chocolate.

sábado, 29 de julho de 2017

Dia 24 | Sentimento de integração na comunidade

Foram duas horas dormidas esta “noite”. Às 7h da manhã, enfardar dois pães, mistura de muito café e chocolate Nesquik. Protector solar e repelente. Pronta para a caminhada com os voluntários da Cruz Vermelha.
Todos os anos, a Cruz Vermelha organiza esta caminhada com os voluntários da WACT. Este ano, nem todos cá da casa quiseram ir por motivos variados; fomos cinco os resistentes. Uma caminhada desde as 8h da manhã até às 14h da tarde!!! Apenas estivemos parados meia hora para tomar o segundo pequeno-almoço, na Cascata dos Sete Túneis.

Por falar em Túneis…

Os túneis servem para fazer passar a água desde o cimo do monte, até cá abaixo, ao reservatório, para depois gerar a energia para a comunidade de Ponta Figo.
Passámos por seis túneis, que consistiam num caminho estreito, de betão, sempre com uma vala de água ao lado. Os primeiros meteram uma certa piada:
“Ah, e tal, que medo… Toquei nuns musgos que estavam no bordo da vala… Seriam musgos ou larvas?”
Nos últimos, apanhámos uma colónia de morcegos, que decidiu voar quando estávamos a passar, provocando um medo de banda mais alargada que musgos. Ainda assim, o momento gratificante de ter conseguido uma pseudo-fotografia disso, valeu qualquer susto. E ainda apanhámos lama, água castanha, com sabe-se lá o quê dentro. Animais? Fungos? Bactérias? O melhor é não pensar, principalmente porque tenho uma ferida no pé e poças de lama lá dentro. O pessoal da Cruz Vermelha, vinha cantando e dançando floresta adentro. Nos túneis, não foi excepção. Batiam os paus nas garrafas e cantavam as suas músicas São-tomenses e também canções típicas portuguesas, mas com letra adaptada. Como a música dos patinhos, atira o pau ao gato, Quim Barreiro
s, entre outras. De certa forma, foi o que me deu força para passar um túnel sem luz, com água até aos joelhos. Bati palmas também. Enganar o cérebro. Tentei também abanar o corpo, como se estivesse a dançar, mas assim salpicava ainda mais água. “Continua a andar, não pares, pois ainda não se vê a luz ao fundo do túnel, o que significa que ainda tens de bater muitas palmas.”

Fazer esta caminhada na floresta foi bastante cansativo, principalmente porque estava ligeiramente de ressaca. Ainda assim, tê-lo feito com pessoas da comunidade de Neves, com o espírito africano à flor de tudo o que fazem, foi brutal. Até dancei na floresta, com a Maria José. Aproveitei claro, para comer mais um cacau. Ainda não os sei distinguir, mas o de hoje era menos doce e lembro-me que não era o endémico.
O caminho de regresso, vínhamos eu e a Ana para trás, a observá-los a tirar cachos de bananas das bananeiras, recolher mata-balas, pimpinelas (o nosso chuchu), cacau. É a tal história de ser bastante fácil de comer neste país, apesar de toda a fruta recolhida ter um dono. E afinal há toda uma lei que também defende a propriedade, logo apenas o dono pode recolher a sua fruta.

A actividade terminou com um almoço convívio na Cruz Vermelha. Fui sozinha representar a WACT e o menu foi rancho com peixe bonito, frito. Uma coisa muito, muito simples. Cada pessoa que participou na caminhada de manhã, deu contribuição de 20.000 dobras para o almoço. Quem não tinha possibilidade, não contribuía com nenhum valor. Daí que o rancho tenha consistido em arroz com alguns feijões flutuantes, e um pedacinho de peixe frito. Mas senti-me em casa: disseram-me para levar apenas um prato e uma colher. Dá para comer bem o arroz com colher, e o peixe frito? Comi com as mãos, tal como todos os outros, e tal e qual como tanto gosto e o costumo fazer na minha casa, no Feijó.

Fui para o Mucumbli cuiar o final da tarde, e começar a escrever o meu diário online. Saí de lá já era noite, e como estava sozinha, perguntei ao rapaz que estava na recepção, se havia boleia para Neves. Então não é que o Firmino me fez companhia pela estrada não iluminada de alcatrão? E veio a contar-me sobre os negócios do Tiziano, até à ponte, onde começa a haver luz na rua. Deixou-me. Caminhei sozinha uns dois minutos, até um jipe que vinha a circular na estrada, abrandar ao meu lado. Dizia Polícia.
“Está tudo bem?”
“Sim… Por acaso não podem dar-me boleia até ali à frente?”

E foi assim que cheguei a casa hoje, de jipe da Polícia.

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Dia 23 | A verdadeira sensibilização ambiental

Perdidos entre tentativas de marcar reunião na Câmara de Lembá, com o Assunção, ligar à Câmara de Lobata para confirmar a acção de resíduos, acabámos por dedicar um tempinho ao Bô Energia e ficámos a produzir alguns briquetes na Carpintaria das Irmãs. Não o suficiente para o Sr. Carlos:
“Já vão de fim-de-semana? Também quero um trabalho desses.”
Olha, amigo, estudasses.

A Domingas e o Sr. Hipólito vieram almoçar cá a casa. Chegaram tarde para o almoço, pois não tiveram hiace mais cedo, vinham de Santa Catarina. O resto da trupe WACT não esperou por eles. Eu também não esperaria, no lugar deles. Os dois são pessoas simples, muito leve-leves. Teve de ser a Rita a apressar o trabalho da tarde, pois estávamos na conversa e não ia parar tão cedo. Mostraram os dois pósteres de sensibilização para preservação das tartarugas, deram um breefing sobre a matéria. Há sete espécies de tartarugas marinhas, cinco das quais passam pela Costa de São Tomé e Príncipe. Quatro dessas espécies desovam cá, outra apenas em Cabo Verde. Duas estão criticamente ameaçadas, uma é a mais pequena delas todas, a lei de preservação das tartarugas marinhas saiu em STP em 2014. Estas e outras curiosidades saem no discurso da Domingas e o Sr. Hipólito ajuda. Quando o Martim faz perguntas mais específicas, patina-se. A Domingas é, na verdade, jurista. O Sr. Hipólito trabalha com tartarugas há uns 20 anos, antes era caçador delas.
Partimos para o Cruzamento do Sr. Virgílio.

Vi de perto a verdadeira sensibilização ambiental, e até toquei nela. A Domingas começa a abrir os
seus pósteres, pede ajuda a uma pessoa para segurar num dos cantos, e rapidamente se aglomeram alguns curiosos em volta, para ouvir o que ela tem a dizer. Quando percebem que o assunto é importante, as pessoas começam a falar de outras coisas, como de política, e apenas depois de os deixar falar à vontade, a Domingas começa o seu discurso mais aprofundado. É basicamente ir para a rua e levar a conversa que se quer ter. Algumas pessoas ficam a ouvir, outras vão embora, outras ainda, protestam, falam do que comem e pescam, que os ovos são saborosos ou que a carne de tartaruga lhes dá dinheiro e não vão mudar nenhum comportamento. Uma palaiê (peixeira), embriagada, muito exaltada, chegando mesmo a ser ordinária no seu discurso.
“Homem e mulher fodem, tartaruga também. Tu não fodes?” Não sei, isto foi o que eu percebi. Depois foi embora, a correr. Deve ter dito alguma coisa das boas, no meio do dialecto…
A sensibilização acaba numa conversa na praia, com os pescadores, que acabam por ir embora pois o Sol já se tinha posto. A conversa continua, mas já não é sobre preservação de ovos de tartaruga. É assim o modo leve-leve.

O projecto Tatô, da Associação MARAPA – Mar, Ambiente e Pesca Artesanal e a ATM – Associação de Tartarugas Marinhas, é de onde surgem estas acções de sensibilização. O projecto pressupõe que fiquem a dormir na casa de alguém da comunidade, pois assim conseguem uma maior proximidade às pessoas. E como acordam no local no dia seguinte, caso haja dúvidas do que foi dito no dia anterior, esclarecem com quem queira. Para isso, pedem contactos de pessoas que possam albergá-los nas suas casas, e solicitam para que algumas refeições sejam preparadas. A Associação paga estas ajudas de custo, às pessoas que albergam.
Foi assim que fomos os quatro jantar a casa da Maria José, da Cruz Vermelha. Ela preparou-nos peixe grelhado, com arroz e fruta-pão frita. Cada um bebeu o que quis e uma Rosema para mim, óbvio.
A família da casa não jantou à mesa connosco, ficaram no sofá a ver televisão. Ainda me hão-de explicar para que é que estas pessoas vêem a RTP 1. Foi o primeiro dia em que vi notícias de Portugal em STP, e tinha logo de ser os fogos de Gavião, Portalegre. Olha que bom, recordar o incêndio que vi de perto o ano passado no Andanças, nessa zona e nesta altura. Os incêndios de Portalegre parecem-me um assunto bastante importante para São Tomé. Se calhar é por isso que depois as pessoas ficam a desejar ter a nossa roupa, a nossa comida, o nosso estilo de vida.
Os São-tomenses não imaginam mesmo o quanto se trabalha do outro lado… É por isso que tantos ambicionam ir para Portugal.

Esta Sexta-feira juntei-me ao grupo que foi sair à noite, para a cidade. Começámos por um bar, o Pico Mocambo, onde tomei uma gravaninha de baunilha. A rapariga que me serviu a bebida avisou-me que era picante, eu apenas não estava à espera de nem sequer encontrar o sabor a baunilha. Só saboreei mesmo o álcool e o picante. Seguimos para a discoteca Pirata. Cá fora ainda, saídos da hiace do Simão, eu só conseguia lembrar-me do HK. O tipo de música, o facto de a discoteca estar vazia e termos de decidir se entramos ou não, a forma como as pessoas se vestem… Tudo. O espírito discoteca é igual ao de Portugal. Apenas os seguranças metem mais medo aqui em STP pois tinham luvas brancas, o que me fez pensar onde é que eles iriam revistar as pessoas.
Cá em STP há também mais dança e menos vontade de “ter status”. Um grupo de rapazes faz as suas demonstrações de dança, à vez, à porta da discoteca. Se calhar não têm dinheiro para entrar, são 50.000 dobras
50.000 dobras = 2€ = uma entrada para rapaz
Raparigas = 20.000 dobras. Sempre tive mais sorte.

Ché, dancei bué! E com bué de damos. Não, na verdade foi só com uns quatro homens. O primeiro, queria ensinar-me a dançar Kizomba então não parava de contar

1, 2, 3, 4,… 1, 2, 3, 4,… 1, 2, 3, 4,… Olha que bela seca! Se eu quisesse pensar em contas, tinha ido à melhoria do exame de matemática, que passei no último ano da Faculdade. O único que me deu o seu número de telefone, não sabia dançar. Olha que bela seca! E com quem gostei mais de dançar, foi com o Simão, conduz a dança muito bem e tudo fluiu. J

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Dia 22 | Into the wild

Carpintaria produzir briquetes.

Depois disso, tínhamos passeio marcado com o pessoal da Alisei e o Sr. Izequiel da Câmara de Lembá. Fomos até Santa Jenny, de JIPE, para ver um projecto fixe na área de resíduos e energia.
O projecto chama-se Bio&Energy e não é que tem o apoio da APA – Agência Portuguesa do Ambiente? Basicamente, é um contentor que está debaixo de terra, digestor, para onde são despejados os resíduos orgânicos, juntamente com água, fecha-se a tapa, e faz-se o aproveitamento do gás resultante da decomposição, biogás. Este circula por um tubo que tem ligação directa ao fogão que está dentro da casa do rapaz, o Helder.

O caminho? Na caixa aberta do jipe, de pé, a levar com o vento e a sentir o cheiro a praia.  Quando chegámos ao mato, foi mais a desviar-me das folhas das bananeiras e cacaueiros. Não sei como é que o jipe conseguiu subir aquelas curvas tão apertadas em caminhos de cabras, mas acho que é a definição de Todo-o-Terreno. Devo confessar que este passeio teve uma probabilidade elevada de taxa de mortalidade. Devido a levar com fruta madura na cabeça. Não levei, por acaso.

Depois de um dia repleto de caminhadas, um dia de jipe TT, num passeio brutal.
Quero mais passeios de jipe no mato! Into the wild!

À tarde, fui finalmente construir a prensa que trouxemos de Portugal. Só porque não a queria levar de volta para Portugal. Na Carpintaria do Sr. Eugénio, a passo leve-leve, lá ficou aquela porra montada. Fizemos dois briquetes, mas duvido que volte a pegar nela.

Dá muito trabalho.

Mucumbli jola com o David e visitas para o jantar, na casa WACT. Hoje não me apetece mesmo falar do projecto dos briquetes, por isso não falem comigo, saxavor.

quarta-feira, 26 de julho de 2017

Dia 21 | Novos desafios

Saída de casa às 6h30, levar o pão para comer no caminho. Uma hiace a encher de pessoas logo à nossa porta.
“Pára em Guadalupe?”
“15.000dobras”
Viagem de 25 minutos, seguida de uma caminhada de 45 minutos, de Guadalupe até à Comunidade de Morro Peixe. O caminho revela uma comunidade tranquila, com menos lixo, menos barulho e menos “olás” do que Neves. Chegámos à praia. O peixe à venda pelas palaiês é o peixe Sol, vermelho e com uma grande boca.
Chegámos ao Museu das Tartarugas, para encontrar o Sr. Hipólito, vestido com um pólo azul-escuro do Lidl. Estavam também presentes, para falar connosco, um grupo de voluntários locais, que trabalha com o Sr. Hipólito. Ouvimos sobre os seus projectos, demos a nossa disponibilidade para ajudar. Enquanto o Sr. Hipólito foi tomar o mata-bicho, visitámos a loja, que exibia vários produtos de artesãos locais. Tivemos também uma espectacular visita guiada ao Museu de Conservação das Tartarugas, que explora a ilha de STP, a biodiversidade de tartarugas, cetáceos, aves, ecossistemas, sistemas de pesca artesanal, tem jogos de sensibilização ambiental para as crianças. O tipo falava super rápido e fiz um esforço enorme para acompanhar o que dizia, até porque estava com algum sono por ter levantado tão cedo.

Mais uma caminhada de 20 minutos, até chegar à praia dos Tamarindos, onde nos mostraram o lixo que a aquela praia turística exibia.
Porquê o nome tamarindos? Tem árvores que dão… Tamarindos. Claro que foi mais um fruto que provei e gostei. É ácido e sabe ligeiramente a limão. Eu gosto de tudo o que se come, basicamente.
Na praia, estavam presentes alguns grupos de visitantes. Chegou inclusivamente um jipe com o Alemão! Esta ilha é pequena.
O principal problema identificado pelo grupo de voluntários é a quantidade de lixo deixada para trás, pelos frequentadores da praia, principalmente ao fim-de-semana. A Câmara não tem passado para recolher o lixo, então fica acumulado em vários pontos.
Agendámos uma acção de recolha de lixo e sensibilização para 5 de Agosto. Necessário parcerias. Então caminhámos outros 50 minutos com o Sr. Hipólito de volta para a cidade de Guadalupe, o objectivo era falar com o presidente da Câmara Distrital de Lobata. Sem hora marcada, apenas conseguimos falar com a sua secretária e com o responsável pela Salubridade. Gostaram da nossa ideia. Explicaram-nos que têm tido problemas de recolha de lixo nas últimas semanas, mas comprometeram-se em recolher o lixo da nossa acção, às 10h da manhã! Por isso, a nossa acção ficou marcada para as 6h30, para dar tempo de limparmos! Deixámos um texto para divulgação na rádio. Foi uma reunião bastante produtiva.
Seguimos para outro encontro não marcado, em São Tomé. Antes de apanharmos a hiace, o Sr. Hipólito foi a uma casa mesmo ao lado da Câmara, para lavar os pés, para ir mais apresentável para a cidade. A caminhada tinha sido por terra batida…
Na cidade, outra caminhada de 20 minutos, até que chegámos à sede da MARAPA, mesmo junto à sede da TESE.
Recebeu-nos a Domingas, que prontamente nos falou da oferta de bolsa de trabalho de 6 meses, a a próxima campanha de conservação de tartarugas, a começar em Outubro. 400€ por mês, com viagem, estadia e alimentação pagas.
“Não, nós estamos aqui até 17 de Agosto. O que podemos fazer agora?”
E rapidamente fomos integrados em duas sessões de sensibilização para pescadores a decorrer em breve. Outra reunião produtiva.
Um dia espectacular, e uma motivação para a minha estadia em STP. A luz ao fundo do túnel.

São 22h15 e no meio das folhas das bananeiras vêem-se as luzes das estrelas e ouvem-se os grilos, para além do ruído da música de Bengá e os cães a ladrar.

Hoje é a natureza que domina

terça-feira, 25 de julho de 2017

Dia 20 | Código de Projecto

Código de Projecto: Trabalhar para o bronze

Saí de casa com a Rita, logo pelas 6h, pois tínhamos de chegar à cidade antes das 8h, para tratar de assuntos da Associação.
O cheiro a queimado na estrada que sai de Neves, revela que continuam as queimadas de capim nesta zona da ilha.
O que fazer na cidade? Ir à Pastelaria Sal e Dóxi, comer um croissant com chocolate que soube bem melhor que os da Brasileira.
1 croissant com chocolate = 20.000dobras
Fiz um pacto com a minha consciência, para voltar e provar os pastéis de nata.
Fomos ao mercado ver os tecidos africanos. Era interessante haver tecidos São-tomenses, no entanto são da Nigéria. Qual é o intuito comprá-los? Só por dizer que são africanos e estamos na África? África é pequena e uniforme? Pelo menos não deve ser tradição aqui. Em São Tomé e Príncipe, e principalmente em Neves que é por onde mais ando, as roupas que vejo são as mesmas roupas que as desportivas europeias, mas todas sujas e rotas. A peça de roupa é usada até ao final, principalmente nas crianças. O que até faz sentido: as crianças brincam na rua, livres e à solta, longe dos olhos dos pais, para quê ir com roupa nova e bonita? Essa deve ficar para Domingo, o dia de ir à missa. As mulheres mais velhas sim, vestem-se com alguns tecidos africanos, a tapar as suas saias. As mais novas, vestem-se com maior cuidado, a exibir as suas pernas nas saias curtas. Também os rapazes têm algum cuidado na roupa, como os moto-taxistas pausados, que até têm óculos de sol com etiqueta ainda colada na lente. Deve ser para dizer que é óculo novo. É muito frequente ver t-shirts do benfica, ou dos partidos de STP, ou de marcas de comida europeias. Vestem qualquer coisa.

Visitei o Centro Cultural Português, onde podem ser requisitados livros, às vezes tem exposições e dá para aceder à Internet nos computadores de lá. Sinto que tudo o que faço na cidade, vai parar ao tuga.

Assuntos não resolvidos na cidade, voltámos com o mesmo motorista de hiace. Esta carrinha tem os assentos da cabeça com lenços que têm a bandeira dos EUA. Estas hiaces são das mais higiénicas, pois os lenços devem ser lavados com alguma frequência. Ao meu lado, uma mãe come um pão e bebe um refrigerante Blue (às 11h da manhã), antes de amamentar o seu bebé. Mesmo ali, na carrinha, quase com o seu mamilo a roçar o meu cotovelo.

O almoço by Xinha foi peixe salgado com molho de tomate, acompanhado de fubá (farinha de milho com arroz) e fruta frita (fruta = fruta-pão).

Quando percebi que à tarde também não ia ser muito produtiva, fui apra o Mucumbli, o refúgio da brranca. Ainda tentei apanhar o Assunção no Kitembú, mas sem sucesso.


No Mucumbli, o resort fantástico, passam lagartixas na esplanada, ouvem-se os pássaros a namorar, as ondas do mar batem lá no fundo e há ainda o som ambiente de música africana. Ficar aqui a apanhar banhos de Sol e Rosema, é o que eu chamo de trabalhar para o bronze. Aprecio bastante este projecto.

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Dia 19 | Dia de lavar a roupa

Pequeno-almoço com flocos aveia, um super reforço de nutrientes, após dois dias de caganeira. Nutrientes necessários também para lavar a roupa, tarefa que comecei bem cedo, logo a seguir ao pequeno-almoço. Cheia de energia matinal hoje! É o que faz uma noite bem dormida. O segredo? Um brufen antes de deitar para cuidar do período, faz milagres ao corpo todo; não acordei uma única vez, até o despertador tocar. E isso não tem acontecido com frequência.
Cá na casa WACT em Bengá, lava-se a roupa num tanque, semelhante ao que a minha avó tem no quintal dela, na Cova da Piedade. Deixa-se a roupa de molho, num balde e com algum sabão à mistura. Após algumas horas, volta a passar-se sabão por cima de cada peça de roupa, na gamela do tanque. E faz-se força. E mais força, para fazer a roupa roçar no tanque, até ficar branquinha. Depois é só pendurar no estendal e voilá.
Mas não é assim que as mulheres São-tomenses lavam as suas roupas, pois este processo gasta muita água. É comum vê-las a lavar a roupa nos pequenos rios perto das comunidades. Roçam a roupa nas gamelas de madeira, com sabão, até ficar lavada. Depois regressam a casa, com os alguidares cheios de roupa, que vêm equilibradamente em cima da cabeça delas. As mulheres que têm possibilidade, pagam a um moto-taxista para ajudá-las a transportar a roupa. Onde seca a roupa? Em cima de pedras, no chão, em cima das ervas,…
De manhã, fomos fazer briquetes para a Carpintaria das Irmãs. A chegar, cruzámos com a Irmã Lúcia.
“Então, já estão a vender briquetes?”
“Ainda não, pois temos tido alguns problemas como consistência e fumaça preta a cozinhar.”
“Pois, o ano passado também não resultou bem.”
Ah, obrigada pela informação, no dia de hoje (dia 19/43).
Os briquetes que são feitos nesta prensa nova, produzida pela Alisei, saem com bastante água, pois não há buracos suficientes para escoamento. A máquina ainda precisa de alguns retoques… Estivemos cerca de 2h a produzir e voltámos à base. Queríamos tentar novamente falar com o Assunção sobre o projecto dele, então passei pelo Kitembú. Afinal a aula de informática que ele ia dar era apenas das 14h às 16h, e ele ainda não tinha chegado. Fiquei de voltar às 14h.
No caminho de regresso, parei na carpintaria Alva, para os ver a trabalhar e para ver as madeiras. Afinal, os carpinteiros têm noção de que árvores estão a trabalhar, pois rapidamente me disseram os nomes Pau-branco, Amoreira, Cidrella,…
Estava um grupo de miúdos sentados na berma da estrada, junto à carpintaria. Um deles chamou-me “Gostosa”. Perguntei porque me disse aquilo, e a única resposta que me lembro era que eu era linda, por ser branca. Na tentativa de manter uma conversa, pedi-lhe para da próxima vez que me visse, me chamasse de Inês. Nisto, mete-se outra miúda e pede-me dóxis. Como já não tenho muita paciência, estendi-lhe também a minha mão e pedi-lhe dóxis. Ficou a olhar para mim e pediu-me conto. Respondi-lhe que tinha conto em Portugal, onde trabalho. Blá blá blá. Enfim, é toda uma conversa que não vai a lado nenhum, no final. Vou continuar a pedir dóxis e contos quando me pedirem também, para ver se gostam!
É comum os miúdos pedirem doces e dinheiro, e os turistas dão. Então as crianças continuam a pedir, sempre que avistam brancos. Será que ainda ninguém pensou em alertar os turistas para não alimentarem as crianças?
Isto não é um ZOO.

Mais à frente, uma miúda com um barrete de Pai Natal enfiado na cabeça. Porra, com este calor? De barrete? Eu disse-lhe que eu não conseguiria, mas ela pelos vistos tem o corpo habituado ao clima.
Hoje eu tinha saído de casa sem dinheiro, para não comprar bolinhos de côco e não apanhar mais nenhuma intoxicação. E passa por mim uma senhora com um balde com uns bolinhos que pareciam de… CHOCOLATE? Isso é bolo de chocolate?? Não, afinal era “bobó”: bolo de banana madura, frita. Expliquei à senhora que não tinha dinheiro para comprar, mas ela insistiu duas vezes para eu levar para provar, e não é que aquele dóxi era mesmo bom? Só não comi a parte na qual os meus dedos agarravam, pois eu já tinha cumprimentado muita gente… (aqui não há guardanapos, pega-se tudo com a mão, e quando não é com o pé).

Neste dia de tanto calor, fui tomar um banho antes do almoço, para refrescar e limpar a poeirada da carpintaria. Dei por mim novamente a pensar “Que banho de princesa que estou a ter”. E pimba, cai-me o chuveiro em cima da cabeça. Que grande galo, fiquei com dores ainda durante alguns dias. As princesas não merecem isto, porta-chuveiros meio partidos.

O arroz de polvo da Xinha é sempre uma delícia, e o do almoço de hoje não foi excepção. E o mais delicioso de hoje? Ir para o Mucumbli da parte da tarde, navegar na Interneeet! E publicar no Facebook do Bô Energia!

Fui finalmente visitar os burros que estão no Mucumbli. Só lá estava um, os outros andavam a pastar. Como já é habitual, o Júnior que trabalha no Mucumbli veio falar comigo, já sabe o meu nome e é ele que me explica todo o funcionamento aqui do spot. Foi assim que alimentei o burro com canas. Ainda vi o burro a correr atrás de uma cabra que entrou para dentro da vedação e estava desesperada pois não sabia como sair. E o outro é que é o burro… J
A conversa dos humanos já não passava dos potenciais passeios na terra do Júnior, em Ponta Figo, então fugi dali. Talvez um fã.
Fugi para apanhar Sol. E beber um sumo de sape sape e umas chips de banana e mata-bala fritas.
Então não é que no Mucumbli estava um grupo de turistas da Margem Sul? Moravam bem perto do tanque de lavar a roupa da minha avó. O mais labrego é que foram eles que me alertaram para as baleias que estavam a passar perto da costa.


Baleias ou ondas, não quero saber, HOJE VI BALEIAS!

domingo, 23 de julho de 2017

Dia 18 | O encanto de São Tomé está no Sul *

Domingo, dia de passeio, com o Simão e a Xinha. Hoje, até ao distrito de Cantagalo (Sudeste) e Caué (Sul).
Foram quase 2h de viagem de hiace até Agua-izé, uma das roças mais bonitas que visitei. Os edifícios estão todos aproveitados para habitação da comunidade. Não há tanto lixo no chão. Parece que há todo um cuidado com a terra.
Nesta Roça, fomos visitar o antigo edifício do Hospital. Agora, também algumas famílias lá habitam. Rapidamente, rodeados de miúdos que nos acompanhavam na visita. Uma miúda deu-me a mão e seguimos para o andar de cima. E já eram duas miúdas. E já me estavam a fazer um rabo-de-cavalo. Não percebo sinceramente como é que fui apanhar uma gastroenterite, tenho tanto cuidado em todo o lado com os micróbios. Ou não…

Passámos pela praia da Boca do Inferno. A sua lenda: o Barão de Água-izé entrou na Boca do Inferno com o seu cavalo branco e foi ter a Cascais. Com a ondulação que lá se faz, duvido que o cavalo não se tenha afogado!

A Praia das Sete Ondas é boa para turista surfar, mas ninguém trouxe pranchas. A areia é cinzenta, há coqueiros por todo o lado. Foi nesta praia que vi as primeiras conchas de estrelas-do-mar. Lindo, lindo! Só as tinha vista antes nas aulas práticas de paleontologia, então fiquei deliciada.

A primeira paragem oficial do passeio: Praia Micondó. Estacionámos a hiace, mas ainda tivemos de percorrer a floresta, passar no rio onde as mulheres estavam a lavar a roupa, passar pelos caroceiros, para finalmente chegar à areia branca. Já ao final da manhã, a praia parecia uma festa aberta, com música bem alta. Grupos de pessoas vieram com comida para lá fazer o almoço, futebol na praia, turistas, comunidade local. Ambiente muito fixe.

Finalizada a manhã de praia, fomos para a segunda paragem oficial do passeio: Roça São João Angolares, para ir fazer a degustação ao Restaurante do João Carlos Silva.
1)      Pimenta + Chocolate Claudio Corallo + Gengibre. Misturar tudo na boca e comer. Cacau e vinho tinto.


2)      Ceviche de peixe andala (=espadarte) + rodela de limão; banana prata + erva-mosquito; maracujá e manga. Picante: tatuá/fura-cueca


3)      Salada de papaia verde + atum laminado + pimenta + maçã + molho vinagrete + milho doce e lascas de côco; sementes de abóbora torradas; abacate com gengibre. 


4)      Beringela grelhada no forno + polpa de tomate e queijo + ovas de peixe voador + peixe-espada frito + agrião + baunilha + queijo de cabra

5)      Bolinho de amendoim; banana recheada com queijo, bacon e brie

6)      “Flor amarela” Bolo de mandioca com polpa de tomate; peixe andala fumado; pasta de manga

7)      Omelete afrodisíaca, com micocó; beijinho com chocolate e tomate.

8)      Goiaba da China assada com canela e cajamanga; ananás assado + erva-príncipe com gengibre

9)      Cajamanga + maracujá

10)   Jaca com sape sape e uma
11)   Kalulu de galinha fumada, arroz e puré de banana + farinha de mandioca e molho picante extra

12)   Papaia com maracujá e queijo; doce de mamão verde com queijo

13)   Banana bêbeda com chocolate Corallo; mandioca com canela
14)   Gelado de micocó com múcua com gelado de maracujá e carambola

15)   Aranha de côco


E incrivelmente, não fiquei cheia com este menu. Mas acho que gostei de tudo. Dêem-me comida, que eu fico satisfeita.

Adeus, Domingo. Até ao próximo Domingo!! Espero por ti.

sábado, 22 de julho de 2017

Dia 17 | Um banho de princesa

Sábado é o dia livre, ou com actividades com a comunidade.
Recolha de lixo em Santa Catarina marcada para as 7h30 com a Cruz Vermelha. Atrasou, como sempre. Nisto, vestida e pronta para sair de casa, tive de ir ao meu local preferido, o wc, e foi então que percebi que ainda não estava em condições para sair de casa em actividades prolongadas.

Tudo o que precisava, era um banho de princesa. Estreei o meu segundo sabonete e estava a banhar-me deliciosamente quando, pimba… A electricidade foi abaixo. 
STP rules

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Dia 16 | Definição de diarreia

Eu achava que sabia o que era diarreia. Afinal andava enganada, todos estes 27 anos. Segundo os médicos cá de casa, só tens diarreia se fizeres cocó mais do que cinco vezes por dia. Perante tal definição, nova no meu dicionário linguístico, percebi que o que eu andava a fazer há duas semanas eram meras “fezes líquidas”, e não diarreia, como eu achava. Agora, estou mesmo de diarreia. Porque é mais do que cinco vezes por dia e é líquido. Um jacto totalmente líquido, que eu não sabia ser possível. Jactos.

Eu e o Martim saímos de casa às 8h10 para apanhar a hiace para a cidade. Tínhamos reunião marcada com a Elvira às 10h na sede da Alisei. Isto porque ela ligou de volta ontem e eu pedi para reunir com a maior brevidade possível.
Às 8h, é a “hora de ponta” das hiaces, em Neves. É como se fosse a ponte 25 de Abril. Mas são todos amarelos, por aqui. Isto porque as carrinhas saem cedo para transportar pessoas para a cidade (por volta das 6h da manhã, uns 40 minutos de viagem), depois ficam na cidade para ter a carrinha cheia para poder regressar a Neves, e nisto fazem-se 2h ate haver hiaces em Neves outra vez, para poder ir para a cidade. Daí o ideal ser sair de casa às 7h da manhã, ou mesmo antes.

Enquanto esperávamos a hiace no meio da rua, lembrei-me de ir a casa buscar o passaporte (uns 15 minutos a pé de onde estávamos), não fosse precisar dele para a consulta. O Martim ficou lá à espera da hiace.
Na volta, estava o Wladimiro a passar de bicicleta. Pedi-lhe uma boleia e lá vim eu como uma lady, com o meu vestido vermelho às bolinhas brancas e os meus ténis, com o rabo sentado no quadro da bicicleta e pernas para a esquerda. O Wladimiro, numa bicicleta a cair de podre, foi um querido e não hesitou. E eu poupei uns 5 minutos de caminho de regresso até ao Martim, já com o meu passaporte. Ainda nenhuma hiace tinha passado. A esta hora, é mesmo complicado.

Apanhar uma carrinha é sempre uma loucura. Ficamos a tentar decifrar quem iremos ter colado a nós durante 40 minutos. Fomos no banco de trás, cinco pessoas. Mais cinco pessoas no banco do meio. Mais 3 pessoas à frente. Quando achamos que não cabia mais ninguém na hiace, o condutor pára na Ribeira Funda para um dos passageiros colocar tábuas de madeira na bagageira. Resultado: Viemos com a bagageira aberta todo o caminho, o que até foi fixe pois houve circulação do ar, e isso nunca acontece! Outra paragem em Guadalupe, apenas para deixar uma encomenda. É bastante comum o condutor fazer paragens a meio do caminho: ou para deixar pessoas, ou para pegar pessoas, receber ou deixar encomendas, colocar combustível, há de tudo um pouco.


Chegámos mesmo em cima da hora da reunião! Mas claro que tivemos de esperar, por aqui os horários são pouco levados a sério. Leve-leve. Mas valeu todo o tempo de espera.
É necessário vinte dias de secagem para os briquetes? A humidade faz com que a fumaça seja preta? Esta reunião tinha sido tão útil tipo… No início do nosso projecto???
Mas pronto, finalmente ficámos com o relatório dos briquetes de Outubro, o último de que temos registo. A Elvira esteve com o projecto até Dezembro, depois deixou a Alise. O intuito era os outros dois prosseguirem com o projecto, mas batatas.

Na Pastelaria Central, a tomar o segundo pequeno-almoço, o David, um dos médicos que está a fazer projecto também na casa WACT, liga-me e perguntei-lhe se podia ir à consulta comigo.
"Sim, bora, anda rápido."
"Rápido? Rápido, não dá para ir a pé, que são uns 20 minutos."

Infracção das regras WACT nº 2: Pegar uma mota-taxi.
“Tens capacete para mim?”
“Não.”
“Ok, bora.”
Bué de fixe! Tinha tantas saudades de andar de mota!!

Opção nº 1: Clínica de brranco. Não tinham médicos disponíveis, só em Setembro. Oh amigo, em Setembro já tenho os médicos que quiser em Portugal…
Opção nº 2: Hospital de São Tomé. Loucura. Pegar um táxi para ir para lá. À entrada, questionam-nos o que vamos lá fazer.
“Sou médico em Portugal, ela é minha colega.”
“Entrem.”
No primeiro edifício, não era, também não era no 2º, nem no 3º, lá nos indicaram o certo.
Para fazer análises, disseram que eu tinha de beber coca-cola.
Não há cá vending machines no Hospital. Mas havia um quiosque, fora do hospital. Através da vedação de rede, bem alto com todos a ouvirem:
“Olha, traz aí uma coca-cola, por favor.”
Parecia a alimentação dentro de um campo de refugiados: passar a coca-cola por entre o arame farpado, pagar por entre a vedação. E a cena repetiu-se, pois tive de beber duas.
Como sou brranca acompanhada de médico brranco, passei à frente de bué de pessoas. E lá fiz as análises.
“Vai dar-me os resultados?”
“Não, não há papel.”
Resolve-se facilmente com comprimidos. Foi bastante fácil, e afinal o passaporte nem foi necessário, nem se paga consultas.

De volta ao centro da cidade, eu e o David decidimos almoçar no Papa-figos. À entrada do restaurante, vendedores de ímanes. Chatos. Não consegui ficar muito tempo sentada, sem ter de ir à casa-de-banho. E não é que o tipo veio tentar vender-me ímanes à porta da casa-de-banho? Amigo, é melhor fugires, nem sabes a explosão que vai acontecer ali dentro!

Um belo bife com alho, batata-doce, legumes cozidos, ovo estrelado, Rosema. A seguir à refeição, nova explosão. Não sei para que raio gastei dinheiro neste almoço, que ficou dentro de mim tão pouco tempo.

O que aprendi estes dias? A não ter vergonha de fazer barulhos. É que aqui pela casa WACT, há sempre alguém na sala, que fica mesmo em frente à casa-de-banho. E também se ouve tudo nos quartos, pois o tecto é de madeira.
Caguei pra isso. Mesmo.