sexta-feira, 21 de julho de 2017

Dia 16 | Definição de diarreia

Eu achava que sabia o que era diarreia. Afinal andava enganada, todos estes 27 anos. Segundo os médicos cá de casa, só tens diarreia se fizeres cocó mais do que cinco vezes por dia. Perante tal definição, nova no meu dicionário linguístico, percebi que o que eu andava a fazer há duas semanas eram meras “fezes líquidas”, e não diarreia, como eu achava. Agora, estou mesmo de diarreia. Porque é mais do que cinco vezes por dia e é líquido. Um jacto totalmente líquido, que eu não sabia ser possível. Jactos.

Eu e o Martim saímos de casa às 8h10 para apanhar a hiace para a cidade. Tínhamos reunião marcada com a Elvira às 10h na sede da Alisei. Isto porque ela ligou de volta ontem e eu pedi para reunir com a maior brevidade possível.
Às 8h, é a “hora de ponta” das hiaces, em Neves. É como se fosse a ponte 25 de Abril. Mas são todos amarelos, por aqui. Isto porque as carrinhas saem cedo para transportar pessoas para a cidade (por volta das 6h da manhã, uns 40 minutos de viagem), depois ficam na cidade para ter a carrinha cheia para poder regressar a Neves, e nisto fazem-se 2h ate haver hiaces em Neves outra vez, para poder ir para a cidade. Daí o ideal ser sair de casa às 7h da manhã, ou mesmo antes.

Enquanto esperávamos a hiace no meio da rua, lembrei-me de ir a casa buscar o passaporte (uns 15 minutos a pé de onde estávamos), não fosse precisar dele para a consulta. O Martim ficou lá à espera da hiace.
Na volta, estava o Wladimiro a passar de bicicleta. Pedi-lhe uma boleia e lá vim eu como uma lady, com o meu vestido vermelho às bolinhas brancas e os meus ténis, com o rabo sentado no quadro da bicicleta e pernas para a esquerda. O Wladimiro, numa bicicleta a cair de podre, foi um querido e não hesitou. E eu poupei uns 5 minutos de caminho de regresso até ao Martim, já com o meu passaporte. Ainda nenhuma hiace tinha passado. A esta hora, é mesmo complicado.

Apanhar uma carrinha é sempre uma loucura. Ficamos a tentar decifrar quem iremos ter colado a nós durante 40 minutos. Fomos no banco de trás, cinco pessoas. Mais cinco pessoas no banco do meio. Mais 3 pessoas à frente. Quando achamos que não cabia mais ninguém na hiace, o condutor pára na Ribeira Funda para um dos passageiros colocar tábuas de madeira na bagageira. Resultado: Viemos com a bagageira aberta todo o caminho, o que até foi fixe pois houve circulação do ar, e isso nunca acontece! Outra paragem em Guadalupe, apenas para deixar uma encomenda. É bastante comum o condutor fazer paragens a meio do caminho: ou para deixar pessoas, ou para pegar pessoas, receber ou deixar encomendas, colocar combustível, há de tudo um pouco.


Chegámos mesmo em cima da hora da reunião! Mas claro que tivemos de esperar, por aqui os horários são pouco levados a sério. Leve-leve. Mas valeu todo o tempo de espera.
É necessário vinte dias de secagem para os briquetes? A humidade faz com que a fumaça seja preta? Esta reunião tinha sido tão útil tipo… No início do nosso projecto???
Mas pronto, finalmente ficámos com o relatório dos briquetes de Outubro, o último de que temos registo. A Elvira esteve com o projecto até Dezembro, depois deixou a Alise. O intuito era os outros dois prosseguirem com o projecto, mas batatas.

Na Pastelaria Central, a tomar o segundo pequeno-almoço, o David, um dos médicos que está a fazer projecto também na casa WACT, liga-me e perguntei-lhe se podia ir à consulta comigo.
"Sim, bora, anda rápido."
"Rápido? Rápido, não dá para ir a pé, que são uns 20 minutos."

Infracção das regras WACT nº 2: Pegar uma mota-taxi.
“Tens capacete para mim?”
“Não.”
“Ok, bora.”
Bué de fixe! Tinha tantas saudades de andar de mota!!

Opção nº 1: Clínica de brranco. Não tinham médicos disponíveis, só em Setembro. Oh amigo, em Setembro já tenho os médicos que quiser em Portugal…
Opção nº 2: Hospital de São Tomé. Loucura. Pegar um táxi para ir para lá. À entrada, questionam-nos o que vamos lá fazer.
“Sou médico em Portugal, ela é minha colega.”
“Entrem.”
No primeiro edifício, não era, também não era no 2º, nem no 3º, lá nos indicaram o certo.
Para fazer análises, disseram que eu tinha de beber coca-cola.
Não há cá vending machines no Hospital. Mas havia um quiosque, fora do hospital. Através da vedação de rede, bem alto com todos a ouvirem:
“Olha, traz aí uma coca-cola, por favor.”
Parecia a alimentação dentro de um campo de refugiados: passar a coca-cola por entre o arame farpado, pagar por entre a vedação. E a cena repetiu-se, pois tive de beber duas.
Como sou brranca acompanhada de médico brranco, passei à frente de bué de pessoas. E lá fiz as análises.
“Vai dar-me os resultados?”
“Não, não há papel.”
Resolve-se facilmente com comprimidos. Foi bastante fácil, e afinal o passaporte nem foi necessário, nem se paga consultas.

De volta ao centro da cidade, eu e o David decidimos almoçar no Papa-figos. À entrada do restaurante, vendedores de ímanes. Chatos. Não consegui ficar muito tempo sentada, sem ter de ir à casa-de-banho. E não é que o tipo veio tentar vender-me ímanes à porta da casa-de-banho? Amigo, é melhor fugires, nem sabes a explosão que vai acontecer ali dentro!

Um belo bife com alho, batata-doce, legumes cozidos, ovo estrelado, Rosema. A seguir à refeição, nova explosão. Não sei para que raio gastei dinheiro neste almoço, que ficou dentro de mim tão pouco tempo.

O que aprendi estes dias? A não ter vergonha de fazer barulhos. É que aqui pela casa WACT, há sempre alguém na sala, que fica mesmo em frente à casa-de-banho. E também se ouve tudo nos quartos, pois o tecto é de madeira.
Caguei pra isso. Mesmo.


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