Hoje não fiz um rabo. Estou desmotivada com o projecto e tudo corre
mal.
Hoje foi dia de preparar o pequeno-almoço na casa WACT, tive de ir logo cedo comprar
o pão à rua. O pão compra-se numa banca que fica literalmente a 2 minutos a pé.
É também daquelas bancas que fica a levar com os tubos de escape, mas nesta, o
pão está guardado em sacas. O que não quer dizer que seja mais higiénico, uma
vez que o vendedor tira os pães com as mãos e coloca-os no nosso saco de pano.
Com um sono dos diabos, às 6h45, sem vontade de falar com ninguém na
rua. Mas em STP isso não é possível, há sempre bons dias e olás para responder.
Era suposto ir à Carpintaria, mas resolvi ir ao Kitembú para mandar um
email a Portugal. Electricidade em baixo, não havia Internet. Fui escrevendo o
email para depois enviar rapidamente, mas a Internet não veio. A electricidade
só voltou à cidade às 16h30. Foram umas 8h em que toda a cidade de Neves esteve
sem electricidade. Mas por aqui não afecta muito, à partida. Todas as
vendedoras de rua estão a trabalhar à mesma, todas as peixeiras (palaiês) a
comprar o peixe junto ao mar à mesma, todos os moto-taxistas continuam pela
estrada à mesma. Fica quase tudo igual, sem electricidade.
Por falar em taxistas, hoje fui abordada por um tipo de 28 anos que
“queria saber mais sobre mim”. Para além de lhe dizer que tinha namorado,
expliquei que andava de bicicleta, mas não creio que alguma mensagem tenha sido
passada nesta breve conversa.
Fui dar um passeio à praia para descomprimir. Foi bom. Uma palaiê
pergunta-me se estou bem “prima”. Esta é original, no mínimo. Não foi “olá”,
nem “oh brranca”. Gostei dela. Fiquei a ver a outra palaiê a regatear o preço
do peixe. Continuava a insistir que era para alimentar a família e não para
vender, e por isso queria mais peixes pelo valor que lhe tinha dado. No final,
lá o pescador acabou por ceder. A “prima” pediu-lhe os peixes que tinham falta
de pedaços, ou já estavam trincados, depois entregou-os a uma das suas filhas
para ir fazer o almoço.Acho que foi peixe de borla.
Continuei o passeio. Ia à Câmara perguntar se a luz já tinha vindo, e
dei de caras com o Assunção. Tive de lhe dizer que tinha um especial interesse
pessoal pelo projecto dele. Aproveitou que eu lhe disse ser bióloga, e logo me falou
num outro projecto dele com a Câmara sobre…
Tcham Tcham Tcham Tcham…
Palaiês. O meio com o qual
eu tinha contactado 10 minutos antes. Incrível o Universo.
Queria ajuda para fazer um orçamento de arcas frigoríficas para as palaiês.
Isto é que é o verdadeiro trabalho de Bióloga, caso não saibam. Fiquei de ir
ter com ele à tarde.
O almoço foi peixe grelhado, com fruta-pão assada e salada. E manga para sobremesa. Ainda não tinha
provado as mangas de cá, são bem pequeninas, em comparação com as importadas do
Perú para Portugal.
Saí para fazer inquéritos do Bô Energia. Apenas fiz uns 5, mas as
respostas são todas as mesmas. À excepção dos preços e da durabilidade do
produto que as mulheres utilizam para cozinhar. É tão complicado perceber a
linguagem delas. Como fazer um estudo de mercado sem perceber o sistema?
Experiência nº3: assar
banana, apenas num fogareiro, apenas com briquetes. A banana mal assou. É tão
frustrante. E amanhã iríamos fazer uma acção de sensibilização. Para quê?
À noite, reunião para decidir o projecto de cada, dos próximos Sábados.
Não aceitaram a minha ideia de ir sozinha ajudar o projecto do Assunção, pois
tem de ser um projecto de grupo, da “família WACT”. Que seca, lá terei de ir
pintar paredes com eles.
São agora 22h52 e está música na rua, com os decibéis bem levantados.
Deve ser porque não ouviram música durante o dia, pois não havia luz.
Quase me esquecia, provei um fruto novo hoje na casa da Xinha, o untué. A sua seiva/leite colou-me os
lábios, as mãos, tudo. Era tão amargo, apenas doce junto do caroço. E elas
comiam-no na boa, pois já têm prática e não ficaram coladas. Riam de mim. É
como quando a Xinha prova as nossas comidas, ficam todos a olhar para ver a
reacção.
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