sábado, 29 de julho de 2017

Dia 24 | Sentimento de integração na comunidade

Foram duas horas dormidas esta “noite”. Às 7h da manhã, enfardar dois pães, mistura de muito café e chocolate Nesquik. Protector solar e repelente. Pronta para a caminhada com os voluntários da Cruz Vermelha.
Todos os anos, a Cruz Vermelha organiza esta caminhada com os voluntários da WACT. Este ano, nem todos cá da casa quiseram ir por motivos variados; fomos cinco os resistentes. Uma caminhada desde as 8h da manhã até às 14h da tarde!!! Apenas estivemos parados meia hora para tomar o segundo pequeno-almoço, na Cascata dos Sete Túneis.

Por falar em Túneis…

Os túneis servem para fazer passar a água desde o cimo do monte, até cá abaixo, ao reservatório, para depois gerar a energia para a comunidade de Ponta Figo.
Passámos por seis túneis, que consistiam num caminho estreito, de betão, sempre com uma vala de água ao lado. Os primeiros meteram uma certa piada:
“Ah, e tal, que medo… Toquei nuns musgos que estavam no bordo da vala… Seriam musgos ou larvas?”
Nos últimos, apanhámos uma colónia de morcegos, que decidiu voar quando estávamos a passar, provocando um medo de banda mais alargada que musgos. Ainda assim, o momento gratificante de ter conseguido uma pseudo-fotografia disso, valeu qualquer susto. E ainda apanhámos lama, água castanha, com sabe-se lá o quê dentro. Animais? Fungos? Bactérias? O melhor é não pensar, principalmente porque tenho uma ferida no pé e poças de lama lá dentro. O pessoal da Cruz Vermelha, vinha cantando e dançando floresta adentro. Nos túneis, não foi excepção. Batiam os paus nas garrafas e cantavam as suas músicas São-tomenses e também canções típicas portuguesas, mas com letra adaptada. Como a música dos patinhos, atira o pau ao gato, Quim Barreiro
s, entre outras. De certa forma, foi o que me deu força para passar um túnel sem luz, com água até aos joelhos. Bati palmas também. Enganar o cérebro. Tentei também abanar o corpo, como se estivesse a dançar, mas assim salpicava ainda mais água. “Continua a andar, não pares, pois ainda não se vê a luz ao fundo do túnel, o que significa que ainda tens de bater muitas palmas.”

Fazer esta caminhada na floresta foi bastante cansativo, principalmente porque estava ligeiramente de ressaca. Ainda assim, tê-lo feito com pessoas da comunidade de Neves, com o espírito africano à flor de tudo o que fazem, foi brutal. Até dancei na floresta, com a Maria José. Aproveitei claro, para comer mais um cacau. Ainda não os sei distinguir, mas o de hoje era menos doce e lembro-me que não era o endémico.
O caminho de regresso, vínhamos eu e a Ana para trás, a observá-los a tirar cachos de bananas das bananeiras, recolher mata-balas, pimpinelas (o nosso chuchu), cacau. É a tal história de ser bastante fácil de comer neste país, apesar de toda a fruta recolhida ter um dono. E afinal há toda uma lei que também defende a propriedade, logo apenas o dono pode recolher a sua fruta.

A actividade terminou com um almoço convívio na Cruz Vermelha. Fui sozinha representar a WACT e o menu foi rancho com peixe bonito, frito. Uma coisa muito, muito simples. Cada pessoa que participou na caminhada de manhã, deu contribuição de 20.000 dobras para o almoço. Quem não tinha possibilidade, não contribuía com nenhum valor. Daí que o rancho tenha consistido em arroz com alguns feijões flutuantes, e um pedacinho de peixe frito. Mas senti-me em casa: disseram-me para levar apenas um prato e uma colher. Dá para comer bem o arroz com colher, e o peixe frito? Comi com as mãos, tal como todos os outros, e tal e qual como tanto gosto e o costumo fazer na minha casa, no Feijó.

Fui para o Mucumbli cuiar o final da tarde, e começar a escrever o meu diário online. Saí de lá já era noite, e como estava sozinha, perguntei ao rapaz que estava na recepção, se havia boleia para Neves. Então não é que o Firmino me fez companhia pela estrada não iluminada de alcatrão? E veio a contar-me sobre os negócios do Tiziano, até à ponte, onde começa a haver luz na rua. Deixou-me. Caminhei sozinha uns dois minutos, até um jipe que vinha a circular na estrada, abrandar ao meu lado. Dizia Polícia.
“Está tudo bem?”
“Sim… Por acaso não podem dar-me boleia até ali à frente?”

E foi assim que cheguei a casa hoje, de jipe da Polícia.

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