sexta-feira, 7 de julho de 2017

Dia 2 | Tanta poluição

São quase 20h da noite e parece que já passou uma semana desde que cheguei a São Tomé. Na verdade vou apenas no dia 2. Aqui, as horas demoram a passar. Ou então ainda estou na fase de absorção de todo o ambiente estranho.
Cada quarto tem 2 beliches e temos redes mosquiteiras à volta da cama, não é uma cama de princesa, mas é quase. Fiquei na cama de cima. Custa a subir e a descer pois a escada não está fixa e pode cair a qualquer momento. Será que vou cair algum dia? Gosto do desafio.

Desafio: passar 6 semanas sem cair na escada do beliche, nem partir nenhum dos meus dois pés.

Ontem, para fazer a cama com os meus lençóis portugueses, sentei-me ao centro da cama e fazia a parte da frente e a parte de trás alternadamente. A cama não ficou bem feita, como é de imaginar. Hoje, já foi a Xinha a fazer a cama, os lençóis ficaram perfeitamente esticados e a rede mosquiteira perfeitamente encaixada nas tábuas da cama. Para mim, é um pouco estranho ter alguém a fazer-me a cama, mas aqui é o normal, e na verdade dá-me imenso jeito pois não chego lá acima.
Ao pequeno-almoço, nova fruta para provar: jaca. Também havia carambola, e pão com marmelada.
Da parte da manhã, demos uma pequena volta aqui pela comunidade de Neves. Passámos pelo Kitembú Digital, o local onde poderemos ir à Internet, usando os computadores lá da sala de informática, ou levando o nosso portátil e ligar à rede. Caminhámos até à Câmara Distrital de Lembá, que fica mesmo junto à praia. Nesta praia, as pessoas baixam a calça e cagam, by the way! É um processo muito simples.
Durante todo o caminho, “Olá”, “Olá”, “Olá”, “Olá”, “Olá”… Andamos identificados com as t-shirts verdes da WACT, e somos um grupo de 11 brancos, então todos querem falar connosco.
Há lixo por toda a rua, por todo o lado.
Eu e o Martim começámos a falar no projecto, no final da manhã. Para ir começando, devagarinho, sem danificar.
O almoço da Xinha foi peixe voador salgado, acompanhado de arroz e fubá (farinha de milho), o que dá uma pasta bem potente. Parecia papa cerelac com pouco leite. O molho de tomate do peixe estava delicioso, a Xinha sabe mesmo o que faz.
À tarde, fomos novamente acompanhados pelo Muller e pelo Alvencido, desta vez para fazer o reconhecimento de comunidades da zona Este. A primeira foi Ribeira Palma, muito pequena e degradada, nesta comunidade moram cerca de 40 famílias. A caminhada dura uma meia hora desde Neves, pelo que ficam um pouco isolados. Ao passar o Centro Comunitário, ouvia-se a novela a dar na televisão. Ao passar a ribeira, uma mulher de tronco nú tapa-se quando avista o grupo de brancos. Senti-me parte de um grupo de aliens que tinha aterrado ali há pouco e andava a passear. Ainda assim, o ambiente era super calmo e descontraído. Aqui, visitámos outra estufa de cacau biológico, onde vimos mesmo o cacau no secador. Tem de ser revirado de hora em hora, deve ser para secar melhor. No placard junto à estufa, feito claramente por alguma empresa, frases para sensibilizar os agricultores para a produção de cacau biológico, de melhor qualidade, pois assim dava mais dinheiro. E a referir que tinha de ir para a fermentação até 5h após a colheita, o que também o torna um placard formativo.
Novamente pela estrada principal, numa tentativa de não sermos atropelados pelas carrinhas amarelas e motas, caminhámos até Ribeira Funda. Esta é um pouco maior, com cerca de 60 famílias. As pessoas estão sentadas na rua, descontraídas, a falar umas com as outras. As crianças brincam livremente, nas ruas.
Foi aqui que fizemos os primeiros inquéritos relativos ao nosso projecto, por sugestão da nossa coordenadora Rita, para testarmos as perguntas com a população. Para testar a língua. Primeira conclusão: não resulta falar de “poluição”, pois não sabem do que estamos a falar, assim como também não resulta falarmos de “briquetes” sem explicar o que é. Ficámos de voltar a Ribeira Palma, 4ªfeira, às 8h, para ver a produção de carvão e a carpintaria local.
No regresso para casa, foi aberto um côco e dividido por todos. Muito bom! Até a fina casca castanha se come, o que eu não sabia, pois da única vez que tinha comido côco assim em crú, só tinha comido a parte branca (acho eu…).
Em Neves, fomos buscar serradura à carpintaria Alva e deixámo-la de molho para testar fazer briquetes, em breve. A prensa de madeira do projecto passado está cá em casa. Ir buscar serradura é muito fácil, pois está um monte de serradura na rua, em redor de qualquer carpintaria.
Ao final da tarde, um passeio até à praia de Bengá, junto à Câmara. Pedi a uma miúda para me DEIXAR ANDAR NA BICICLETA DELA. Eram dois bikers, ela e o irmão. Deve ser uma família revolucionária. Contra todas as expectativas, a bicicleta da miúda é mais desconfortável do que a minha Vilar Alpine. Não tentei as mudanças, mas até tinha travões funcionais!
Infracção das regras WACT nº 1: Tirei uma fotografia a uma pessoa da comunidade de trabalho. Era um motoqueiro, que exibia umas luzes verdes nos punhos da sua mota. Pedi para tirar uma fotografia a ele com a sua mota de luzes fluorescentes, ele posou para a foto. Ao ver o que eu fiz, veio logo de lá um grupo de miúdos com copos na mão, que quis também posar para uma fotografia. tive de tirar e mostrar-lhes, pois está claro.
À noite, tive a minha primeira experiência… Com dinheiro. Fui comprar pão.
1 pão = 2 contos
1 conto = 10.000 dobras (que é uma nota)
1€ = 24.500 dobras

Aqui no centro de Bengá, na zona dos bares, como diz a Rita, era só motas e carrinhas a passar. Uma fumaça desgraçada que se juntava à fumaça do carvão usado para cozinhar as bananas e outras coisas mais, que estão por toda a rua. A sério, tanto fumo em todo o lado! Acho que percebi a importância que os briquetes podem ter aqui neste local, percebi pelo cheiro acumulado do ar, de dois dias. 

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