Pequeno-almoço com flocos aveia, um super reforço de nutrientes, após
dois dias de caganeira. Nutrientes necessários também para lavar a roupa, tarefa
que comecei bem cedo, logo a seguir ao pequeno-almoço. Cheia de energia matinal
hoje! É o que faz uma noite bem dormida. O segredo? Um brufen antes de deitar
para cuidar do período, faz milagres ao corpo todo; não acordei uma única vez,
até o despertador tocar. E isso não tem acontecido com frequência.
Cá na casa WACT em Bengá, lava-se a roupa num tanque, semelhante ao que
a minha avó tem no quintal dela, na Cova da Piedade. Deixa-se a roupa de molho,
num balde e com algum sabão à mistura. Após algumas horas, volta a passar-se
sabão por cima de cada peça de roupa, na gamela do tanque. E faz-se força. E
mais força, para fazer a roupa roçar no tanque, até ficar branquinha. Depois é
só pendurar no estendal e voilá.
Mas não é assim que as mulheres São-tomenses lavam as suas roupas, pois
este processo gasta muita água. É comum vê-las a lavar a roupa nos pequenos
rios perto das comunidades. Roçam a roupa nas gamelas de madeira, com sabão,
até ficar lavada. Depois regressam a casa, com os alguidares cheios de roupa,
que vêm equilibradamente em cima da cabeça delas. As mulheres que têm
possibilidade, pagam a um moto-taxista para ajudá-las a transportar a roupa.
Onde seca a roupa? Em cima de pedras, no chão, em cima das ervas,…
De manhã, fomos fazer briquetes para a Carpintaria das Irmãs. A chegar,
cruzámos com a Irmã Lúcia.
“Então, já estão a vender briquetes?”
“Ainda não, pois temos tido alguns problemas como consistência e fumaça
preta a cozinhar.”
“Pois, o ano passado também não resultou bem.”
Ah, obrigada pela informação, no dia de hoje (dia 19/43).
Os briquetes que são feitos nesta prensa nova, produzida pela Alisei,
saem com bastante água, pois não há buracos suficientes para escoamento. A
máquina ainda precisa de alguns retoques… Estivemos cerca de 2h a produzir e
voltámos à base. Queríamos tentar novamente falar com o Assunção sobre o
projecto dele, então passei pelo Kitembú. Afinal a aula de informática que ele
ia dar era apenas das 14h às 16h, e ele ainda não tinha chegado. Fiquei de
voltar às 14h.
No caminho de regresso, parei na carpintaria Alva, para os ver a
trabalhar e para ver as madeiras. Afinal, os carpinteiros têm noção de que
árvores estão a trabalhar, pois rapidamente me disseram os nomes Pau-branco,
Amoreira, Cidrella,…
Estava um grupo de miúdos sentados na berma da estrada, junto à
carpintaria. Um deles chamou-me “Gostosa”. Perguntei porque me disse aquilo, e
a única resposta que me lembro era que eu era linda, por ser branca. Na
tentativa de manter uma conversa, pedi-lhe para da próxima vez que me visse, me
chamasse de Inês. Nisto, mete-se outra miúda e pede-me dóxis. Como já não tenho
muita paciência, estendi-lhe também a minha mão e pedi-lhe dóxis. Ficou a olhar
para mim e pediu-me conto. Respondi-lhe que tinha conto em Portugal, onde
trabalho. Blá blá blá. Enfim, é toda uma conversa que não vai a lado nenhum, no
final. Vou continuar a pedir dóxis e contos quando me pedirem também, para ver
se gostam!
É comum os miúdos pedirem doces e dinheiro, e os turistas dão. Então as
crianças continuam a pedir, sempre que avistam brancos. Será que ainda ninguém
pensou em alertar os turistas para não alimentarem as crianças?
Isto
não é um ZOO.
Mais à frente, uma miúda com um barrete de Pai Natal enfiado na cabeça.
Porra, com este calor? De barrete? Eu disse-lhe que eu não conseguiria, mas ela
pelos vistos tem o corpo habituado ao clima.
Hoje eu tinha saído de casa sem dinheiro, para não comprar bolinhos de
côco e não apanhar mais nenhuma intoxicação. E passa por mim uma senhora com um
balde com uns bolinhos que pareciam de… CHOCOLATE? Isso é bolo de chocolate??
Não, afinal era “bobó”: bolo de
banana madura, frita. Expliquei à senhora que não tinha dinheiro para comprar,
mas ela insistiu duas vezes para eu levar para provar, e não é que aquele dóxi
era mesmo bom? Só não comi a parte na qual os meus dedos agarravam, pois eu já
tinha cumprimentado muita gente… (aqui não há guardanapos, pega-se tudo com a
mão, e quando não é com o pé).
Neste dia de tanto calor, fui tomar um banho antes do almoço, para
refrescar e limpar a poeirada da carpintaria. Dei por mim novamente a pensar
“Que banho de princesa que estou a ter”. E pimba, cai-me o chuveiro em cima da
cabeça. Que grande galo, fiquei com dores ainda durante alguns dias. As
princesas não merecem isto, porta-chuveiros meio partidos.
O arroz de polvo da Xinha é sempre uma delícia, e o do almoço de hoje
não foi excepção. E o mais delicioso de hoje? Ir para o Mucumbli da parte da
tarde, navegar na Interneeet! E publicar no Facebook do Bô Energia!
Fui finalmente visitar os burros que estão no Mucumbli. Só lá estava
um, os outros andavam a pastar. Como já é habitual, o Júnior que trabalha no
Mucumbli veio falar comigo, já sabe o meu nome e é ele que me explica todo o
funcionamento aqui do spot. Foi assim
que alimentei o burro com canas. Ainda vi o burro a correr atrás de uma cabra
que entrou para dentro da vedação e estava desesperada pois não sabia como
sair. E o outro é que é o burro… J
A conversa dos humanos já não passava dos potenciais passeios na terra
do Júnior, em Ponta Figo, então fugi dali. Talvez um fã.
Fugi para apanhar Sol. E beber um sumo de sape sape e umas chips de
banana e mata-bala fritas.
Então não é que no Mucumbli estava um grupo de turistas da Margem Sul?
Moravam bem perto do tanque de lavar a roupa da minha avó. O mais labrego é que
foram eles que me alertaram para as baleias que estavam a passar perto da costa.
Baleias ou ondas, não quero saber, HOJE
VI BALEIAS!
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