segunda-feira, 24 de julho de 2017

Dia 19 | Dia de lavar a roupa

Pequeno-almoço com flocos aveia, um super reforço de nutrientes, após dois dias de caganeira. Nutrientes necessários também para lavar a roupa, tarefa que comecei bem cedo, logo a seguir ao pequeno-almoço. Cheia de energia matinal hoje! É o que faz uma noite bem dormida. O segredo? Um brufen antes de deitar para cuidar do período, faz milagres ao corpo todo; não acordei uma única vez, até o despertador tocar. E isso não tem acontecido com frequência.
Cá na casa WACT em Bengá, lava-se a roupa num tanque, semelhante ao que a minha avó tem no quintal dela, na Cova da Piedade. Deixa-se a roupa de molho, num balde e com algum sabão à mistura. Após algumas horas, volta a passar-se sabão por cima de cada peça de roupa, na gamela do tanque. E faz-se força. E mais força, para fazer a roupa roçar no tanque, até ficar branquinha. Depois é só pendurar no estendal e voilá.
Mas não é assim que as mulheres São-tomenses lavam as suas roupas, pois este processo gasta muita água. É comum vê-las a lavar a roupa nos pequenos rios perto das comunidades. Roçam a roupa nas gamelas de madeira, com sabão, até ficar lavada. Depois regressam a casa, com os alguidares cheios de roupa, que vêm equilibradamente em cima da cabeça delas. As mulheres que têm possibilidade, pagam a um moto-taxista para ajudá-las a transportar a roupa. Onde seca a roupa? Em cima de pedras, no chão, em cima das ervas,…
De manhã, fomos fazer briquetes para a Carpintaria das Irmãs. A chegar, cruzámos com a Irmã Lúcia.
“Então, já estão a vender briquetes?”
“Ainda não, pois temos tido alguns problemas como consistência e fumaça preta a cozinhar.”
“Pois, o ano passado também não resultou bem.”
Ah, obrigada pela informação, no dia de hoje (dia 19/43).
Os briquetes que são feitos nesta prensa nova, produzida pela Alisei, saem com bastante água, pois não há buracos suficientes para escoamento. A máquina ainda precisa de alguns retoques… Estivemos cerca de 2h a produzir e voltámos à base. Queríamos tentar novamente falar com o Assunção sobre o projecto dele, então passei pelo Kitembú. Afinal a aula de informática que ele ia dar era apenas das 14h às 16h, e ele ainda não tinha chegado. Fiquei de voltar às 14h.
No caminho de regresso, parei na carpintaria Alva, para os ver a trabalhar e para ver as madeiras. Afinal, os carpinteiros têm noção de que árvores estão a trabalhar, pois rapidamente me disseram os nomes Pau-branco, Amoreira, Cidrella,…
Estava um grupo de miúdos sentados na berma da estrada, junto à carpintaria. Um deles chamou-me “Gostosa”. Perguntei porque me disse aquilo, e a única resposta que me lembro era que eu era linda, por ser branca. Na tentativa de manter uma conversa, pedi-lhe para da próxima vez que me visse, me chamasse de Inês. Nisto, mete-se outra miúda e pede-me dóxis. Como já não tenho muita paciência, estendi-lhe também a minha mão e pedi-lhe dóxis. Ficou a olhar para mim e pediu-me conto. Respondi-lhe que tinha conto em Portugal, onde trabalho. Blá blá blá. Enfim, é toda uma conversa que não vai a lado nenhum, no final. Vou continuar a pedir dóxis e contos quando me pedirem também, para ver se gostam!
É comum os miúdos pedirem doces e dinheiro, e os turistas dão. Então as crianças continuam a pedir, sempre que avistam brancos. Será que ainda ninguém pensou em alertar os turistas para não alimentarem as crianças?
Isto não é um ZOO.

Mais à frente, uma miúda com um barrete de Pai Natal enfiado na cabeça. Porra, com este calor? De barrete? Eu disse-lhe que eu não conseguiria, mas ela pelos vistos tem o corpo habituado ao clima.
Hoje eu tinha saído de casa sem dinheiro, para não comprar bolinhos de côco e não apanhar mais nenhuma intoxicação. E passa por mim uma senhora com um balde com uns bolinhos que pareciam de… CHOCOLATE? Isso é bolo de chocolate?? Não, afinal era “bobó”: bolo de banana madura, frita. Expliquei à senhora que não tinha dinheiro para comprar, mas ela insistiu duas vezes para eu levar para provar, e não é que aquele dóxi era mesmo bom? Só não comi a parte na qual os meus dedos agarravam, pois eu já tinha cumprimentado muita gente… (aqui não há guardanapos, pega-se tudo com a mão, e quando não é com o pé).

Neste dia de tanto calor, fui tomar um banho antes do almoço, para refrescar e limpar a poeirada da carpintaria. Dei por mim novamente a pensar “Que banho de princesa que estou a ter”. E pimba, cai-me o chuveiro em cima da cabeça. Que grande galo, fiquei com dores ainda durante alguns dias. As princesas não merecem isto, porta-chuveiros meio partidos.

O arroz de polvo da Xinha é sempre uma delícia, e o do almoço de hoje não foi excepção. E o mais delicioso de hoje? Ir para o Mucumbli da parte da tarde, navegar na Interneeet! E publicar no Facebook do Bô Energia!

Fui finalmente visitar os burros que estão no Mucumbli. Só lá estava um, os outros andavam a pastar. Como já é habitual, o Júnior que trabalha no Mucumbli veio falar comigo, já sabe o meu nome e é ele que me explica todo o funcionamento aqui do spot. Foi assim que alimentei o burro com canas. Ainda vi o burro a correr atrás de uma cabra que entrou para dentro da vedação e estava desesperada pois não sabia como sair. E o outro é que é o burro… J
A conversa dos humanos já não passava dos potenciais passeios na terra do Júnior, em Ponta Figo, então fugi dali. Talvez um fã.
Fugi para apanhar Sol. E beber um sumo de sape sape e umas chips de banana e mata-bala fritas.
Então não é que no Mucumbli estava um grupo de turistas da Margem Sul? Moravam bem perto do tanque de lavar a roupa da minha avó. O mais labrego é que foram eles que me alertaram para as baleias que estavam a passar perto da costa.


Baleias ou ondas, não quero saber, HOJE VI BALEIAS!

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