Perdidos entre tentativas de marcar reunião na Câmara de Lembá, com o
Assunção, ligar à Câmara de Lobata para confirmar a acção de resíduos, acabámos
por dedicar um tempinho ao Bô Energia e ficámos a produzir alguns briquetes na
Carpintaria das Irmãs. Não o suficiente para o Sr. Carlos:
“Já vão de fim-de-semana? Também quero um trabalho desses.”
Olha, amigo, estudasses.
A Domingas e o Sr. Hipólito vieram almoçar cá a casa. Chegaram tarde
para o almoço, pois não tiveram hiace mais cedo, vinham de Santa Catarina. O
resto da trupe WACT não esperou por eles. Eu também não esperaria, no lugar
deles. Os dois são pessoas simples, muito leve-leves. Teve de ser a Rita a
apressar o trabalho da tarde, pois estávamos na conversa e não ia parar tão
cedo. Mostraram os dois pósteres de sensibilização para preservação das
tartarugas, deram um breefing sobre a
matéria. Há sete espécies de tartarugas marinhas, cinco das quais passam pela
Costa de São Tomé e Príncipe. Quatro dessas espécies desovam cá, outra apenas
em Cabo Verde. Duas estão criticamente ameaçadas, uma é a mais pequena delas
todas, a lei de preservação das tartarugas marinhas saiu em STP em 2014. Estas
e outras curiosidades saem no discurso da Domingas e o Sr. Hipólito ajuda.
Quando o Martim faz perguntas mais específicas, patina-se. A Domingas é, na
verdade, jurista. O Sr. Hipólito trabalha com tartarugas há uns 20 anos, antes
era caçador delas.
Partimos para o Cruzamento do Sr. Virgílio.
Vi de perto a verdadeira sensibilização ambiental, e até toquei nela. A
Domingas começa a abrir os
seus pósteres, pede ajuda a uma pessoa para segurar
num dos cantos, e rapidamente se aglomeram alguns curiosos em volta, para ouvir
o que ela tem a dizer. Quando percebem que o assunto é importante, as pessoas
começam a falar de outras coisas, como de política, e apenas depois de os
deixar falar à vontade, a Domingas começa o seu discurso mais aprofundado. É
basicamente ir para a rua e levar a conversa que se quer ter. Algumas pessoas
ficam a ouvir, outras vão embora, outras ainda, protestam, falam do que comem e
pescam, que os ovos são saborosos ou que a carne de tartaruga lhes dá dinheiro
e não vão mudar nenhum comportamento. Uma palaiê (peixeira), embriagada, muito
exaltada, chegando mesmo a ser ordinária no seu discurso.
“Homem e mulher fodem, tartaruga também. Tu não fodes?” Não sei, isto
foi o que eu percebi. Depois foi embora, a correr. Deve ter dito alguma coisa
das boas, no meio do dialecto…
A sensibilização acaba numa conversa na praia, com os pescadores, que
acabam por ir embora pois o Sol já se tinha posto. A conversa continua, mas já
não é sobre preservação de ovos de tartaruga. É assim o modo leve-leve.
O projecto Tatô, da Associação MARAPA – Mar, Ambiente e Pesca Artesanal
e a ATM – Associação de Tartarugas Marinhas, é de onde surgem estas acções de
sensibilização. O projecto pressupõe que fiquem a dormir na casa de alguém da
comunidade, pois assim conseguem uma maior proximidade às pessoas. E como
acordam no local no dia seguinte, caso haja dúvidas do que foi dito no dia
anterior, esclarecem com quem queira. Para isso, pedem contactos de pessoas que
possam albergá-los nas suas casas, e solicitam para que algumas refeições sejam
preparadas. A Associação paga estas ajudas de custo, às pessoas que albergam.
Foi assim que fomos os quatro jantar a casa da Maria José, da Cruz
Vermelha. Ela preparou-nos peixe grelhado, com arroz e fruta-pão frita. Cada um
bebeu o que quis e uma Rosema para mim, óbvio.
A família da casa não jantou à mesa connosco, ficaram no sofá a ver
televisão. Ainda me hão-de explicar para que é que estas pessoas vêem a RTP 1.
Foi o primeiro dia em que vi notícias de Portugal em STP, e tinha logo de ser
os fogos de Gavião, Portalegre. Olha que bom, recordar o incêndio que vi de
perto o ano passado no Andanças, nessa zona e nesta altura. Os incêndios de
Portalegre parecem-me um assunto bastante importante para São Tomé. Se calhar é
por isso que depois as pessoas ficam a desejar ter a nossa roupa, a nossa comida,
o nosso estilo de vida.
Os São-tomenses não imaginam mesmo o quanto se trabalha do outro lado…
É por isso que tantos ambicionam ir para Portugal.
Esta Sexta-feira juntei-me ao grupo que foi sair à noite, para a
cidade. Começámos por um bar, o Pico
Mocambo, onde tomei uma gravaninha de baunilha. A rapariga que me serviu a
bebida avisou-me que era picante, eu apenas não estava à espera de nem sequer
encontrar o sabor a baunilha. Só saboreei mesmo o álcool e o picante. Seguimos
para a discoteca Pirata. Cá fora
ainda, saídos da hiace do Simão, eu só conseguia lembrar-me do HK. O tipo de
música, o facto de a discoteca estar vazia e termos de decidir se entramos ou
não, a forma como as pessoas se vestem… Tudo. O espírito discoteca é igual ao
de Portugal. Apenas os seguranças metem mais medo aqui em STP pois tinham luvas
brancas, o que me fez pensar onde é que eles iriam revistar as pessoas.
Cá em STP há também mais dança e menos vontade de “ter status”. Um
grupo de rapazes faz as suas demonstrações de dança, à vez, à porta da
discoteca. Se calhar não têm dinheiro para entrar, são 50.000 dobras
50.000 dobras = 2€ = uma entrada para
rapaz
Raparigas = 20.000 dobras. Sempre tive
mais sorte.
Ché, dancei bué! E com bué de damos. Não, na verdade foi só com uns
quatro homens. O primeiro, queria ensinar-me a dançar Kizomba então não parava
de contar
1, 2, 3, 4,… 1, 2, 3, 4,… 1, 2, 3, 4,… Olha que bela seca! Se eu
quisesse pensar em contas, tinha ido à melhoria do exame de matemática, que
passei no último ano da Faculdade. O único que me deu o seu número de telefone,
não sabia dançar. Olha que bela seca! E com quem gostei mais de dançar, foi com
o Simão, conduz a dança muito bem e tudo fluiu. J
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