sexta-feira, 28 de julho de 2017

Dia 23 | A verdadeira sensibilização ambiental

Perdidos entre tentativas de marcar reunião na Câmara de Lembá, com o Assunção, ligar à Câmara de Lobata para confirmar a acção de resíduos, acabámos por dedicar um tempinho ao Bô Energia e ficámos a produzir alguns briquetes na Carpintaria das Irmãs. Não o suficiente para o Sr. Carlos:
“Já vão de fim-de-semana? Também quero um trabalho desses.”
Olha, amigo, estudasses.

A Domingas e o Sr. Hipólito vieram almoçar cá a casa. Chegaram tarde para o almoço, pois não tiveram hiace mais cedo, vinham de Santa Catarina. O resto da trupe WACT não esperou por eles. Eu também não esperaria, no lugar deles. Os dois são pessoas simples, muito leve-leves. Teve de ser a Rita a apressar o trabalho da tarde, pois estávamos na conversa e não ia parar tão cedo. Mostraram os dois pósteres de sensibilização para preservação das tartarugas, deram um breefing sobre a matéria. Há sete espécies de tartarugas marinhas, cinco das quais passam pela Costa de São Tomé e Príncipe. Quatro dessas espécies desovam cá, outra apenas em Cabo Verde. Duas estão criticamente ameaçadas, uma é a mais pequena delas todas, a lei de preservação das tartarugas marinhas saiu em STP em 2014. Estas e outras curiosidades saem no discurso da Domingas e o Sr. Hipólito ajuda. Quando o Martim faz perguntas mais específicas, patina-se. A Domingas é, na verdade, jurista. O Sr. Hipólito trabalha com tartarugas há uns 20 anos, antes era caçador delas.
Partimos para o Cruzamento do Sr. Virgílio.

Vi de perto a verdadeira sensibilização ambiental, e até toquei nela. A Domingas começa a abrir os
seus pósteres, pede ajuda a uma pessoa para segurar num dos cantos, e rapidamente se aglomeram alguns curiosos em volta, para ouvir o que ela tem a dizer. Quando percebem que o assunto é importante, as pessoas começam a falar de outras coisas, como de política, e apenas depois de os deixar falar à vontade, a Domingas começa o seu discurso mais aprofundado. É basicamente ir para a rua e levar a conversa que se quer ter. Algumas pessoas ficam a ouvir, outras vão embora, outras ainda, protestam, falam do que comem e pescam, que os ovos são saborosos ou que a carne de tartaruga lhes dá dinheiro e não vão mudar nenhum comportamento. Uma palaiê (peixeira), embriagada, muito exaltada, chegando mesmo a ser ordinária no seu discurso.
“Homem e mulher fodem, tartaruga também. Tu não fodes?” Não sei, isto foi o que eu percebi. Depois foi embora, a correr. Deve ter dito alguma coisa das boas, no meio do dialecto…
A sensibilização acaba numa conversa na praia, com os pescadores, que acabam por ir embora pois o Sol já se tinha posto. A conversa continua, mas já não é sobre preservação de ovos de tartaruga. É assim o modo leve-leve.

O projecto Tatô, da Associação MARAPA – Mar, Ambiente e Pesca Artesanal e a ATM – Associação de Tartarugas Marinhas, é de onde surgem estas acções de sensibilização. O projecto pressupõe que fiquem a dormir na casa de alguém da comunidade, pois assim conseguem uma maior proximidade às pessoas. E como acordam no local no dia seguinte, caso haja dúvidas do que foi dito no dia anterior, esclarecem com quem queira. Para isso, pedem contactos de pessoas que possam albergá-los nas suas casas, e solicitam para que algumas refeições sejam preparadas. A Associação paga estas ajudas de custo, às pessoas que albergam.
Foi assim que fomos os quatro jantar a casa da Maria José, da Cruz Vermelha. Ela preparou-nos peixe grelhado, com arroz e fruta-pão frita. Cada um bebeu o que quis e uma Rosema para mim, óbvio.
A família da casa não jantou à mesa connosco, ficaram no sofá a ver televisão. Ainda me hão-de explicar para que é que estas pessoas vêem a RTP 1. Foi o primeiro dia em que vi notícias de Portugal em STP, e tinha logo de ser os fogos de Gavião, Portalegre. Olha que bom, recordar o incêndio que vi de perto o ano passado no Andanças, nessa zona e nesta altura. Os incêndios de Portalegre parecem-me um assunto bastante importante para São Tomé. Se calhar é por isso que depois as pessoas ficam a desejar ter a nossa roupa, a nossa comida, o nosso estilo de vida.
Os São-tomenses não imaginam mesmo o quanto se trabalha do outro lado… É por isso que tantos ambicionam ir para Portugal.

Esta Sexta-feira juntei-me ao grupo que foi sair à noite, para a cidade. Começámos por um bar, o Pico Mocambo, onde tomei uma gravaninha de baunilha. A rapariga que me serviu a bebida avisou-me que era picante, eu apenas não estava à espera de nem sequer encontrar o sabor a baunilha. Só saboreei mesmo o álcool e o picante. Seguimos para a discoteca Pirata. Cá fora ainda, saídos da hiace do Simão, eu só conseguia lembrar-me do HK. O tipo de música, o facto de a discoteca estar vazia e termos de decidir se entramos ou não, a forma como as pessoas se vestem… Tudo. O espírito discoteca é igual ao de Portugal. Apenas os seguranças metem mais medo aqui em STP pois tinham luvas brancas, o que me fez pensar onde é que eles iriam revistar as pessoas.
Cá em STP há também mais dança e menos vontade de “ter status”. Um grupo de rapazes faz as suas demonstrações de dança, à vez, à porta da discoteca. Se calhar não têm dinheiro para entrar, são 50.000 dobras
50.000 dobras = 2€ = uma entrada para rapaz
Raparigas = 20.000 dobras. Sempre tive mais sorte.

Ché, dancei bué! E com bué de damos. Não, na verdade foi só com uns quatro homens. O primeiro, queria ensinar-me a dançar Kizomba então não parava de contar

1, 2, 3, 4,… 1, 2, 3, 4,… 1, 2, 3, 4,… Olha que bela seca! Se eu quisesse pensar em contas, tinha ido à melhoria do exame de matemática, que passei no último ano da Faculdade. O único que me deu o seu número de telefone, não sabia dançar. Olha que bela seca! E com quem gostei mais de dançar, foi com o Simão, conduz a dança muito bem e tudo fluiu. J

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